Barcelona: Segredos do campeão mundial interclubes

dez 23, 2011 | Esporte | 2 Comentários

O mundo assistiu, no dia 18 de dezembro de 2011, a uma verdadeira aula de futebol proporcionada pelo Barcelona de Messi em cima do Santos , na final do Mundial de Clubes de 2011. Os 4 a 0 no placar foram até pouco, dado o domínio da partida exercido pelo clube espanhol, dono da bola por mais de 70% do tempo de jogo. O que levou o Santos, tido como melhor time da América, campeão da Libertadores 2011 e contando com o melhor jogador do Brasil, o Neymar, sucumbir de forma tão esplendorosa ao futebol primoroso e irretocável do time catalão?

Barcelona: Segredo do campeão mundial de clubes

A verdade é que o Barcelona é a obra-prima forjada do que de melhor o futebol na Europa produziu nas últimas décadas, muito melhor organizado e profissional do que o sulamericano. Especificamente no caso do Barcelona, sua filosofia de jogo foi implantada ainda nos anos 70, quando passou por lá o treinador holandês Linus Mitchel, famoso pelo carrossel holandês finalista da Copa do  Mundo de 1970, sistema de jogo onde os jogadores não guardavam posição fixa, a posse de bola era extremamente valorizada e o toque de bola servia para suplantar o futebol força. Quase deu certo na Copa, mas a Alemanha levou a melhor em cima da Holanda e poucos treinadores fora da Holanda tiveram coragem de adotar o sistema tático posteriormente.

Europa: o melhor futebol do mundo

Voltando para 2011, o que vimos no estádio de Yokohama (Japão) foi muito além disso. Foi o sinal mais claro para o futebol brasileiro rever muito de seus conceitos. Por mais que se espalhe a teoria de um equilíbrio existente entre as disputas entres clubes sulamericanos e europeus, com as conquistas do Mundial Interclubes pelo São Paulo (2005) e Inter de Porto Alegre (2006), elas devem ser creditadas muito mais ao fator sorte do que a uma suposta superioridade das equipes brasileiras durante o jogo. Nas duas oportunidades, para quem não se lembra, as equipes brasileiras acharam um gol e foram pressionadas durante todo o jogo e só não levaram um gol por pura sorte e pela atuação perfeitas de seus goleiros à época (Rogério Ceni, pelo São Paulo e Clémer, pelo Inter). O fato é que o nível técnico do jogadores brasileiros está muito baixo, sendo que os melhores acabam saindo para a Europa e também para centros não tão tradicionais do futebol, como Rússia, Ucrânia, Oriente Médio e Leste Europeu.  Por saírem bem jovens, esses jogadores brasileiros acabam incorporando a mentalidade tática do evoluído futebol europeu, sobrando no Brasil um ou outro gato pingado de talento como o Neymar ou jogadores em fim de carreira em busca de vida mansa no Brasil, caso de Ronaldinho Gaúcho no Flamengo e Adriano no Corinthians.

Barcelona passeou no Santos

Tudo isso se refletiu de forma clamorosa na final do Mundial de Clubes 2011, quando o Santos tomou 4, mas poderia ter sido 7 ou 8 sem nenhum problema. Comandado por Messi, Xavi, Iniesta, Fábregas e Daniel Alves, o Barcelona envolveu a equipe brasileira com toque de bola preciso, cadenciado, certinho, culminando, quase sempre, em alguma jogada aguda levando grande perigo à meta santista.

Parece que a goleada fez cair a máscara do futebol brasileiro, que há alguns anos vem se preocupando muito mais com marketing e venda de camisas do que com resultados e títulos dentro de campo. Vendendo um peixe que há muito deixou de ser pescado. Na busca por um novo ídolo do momento, todo perna-de-pau meia boca é alçado pela mídia e pela torcida à condição de superstar do futebol nacional, mesmo que para isso tenha feito um gol de canela, sem querer, numa final de estadual ou macaqueando comemorações idealizadas por emissoras de TV. Categorias de base são deixadas de lado em troca de contratações de jogadores com carreiras já na curva descendente. E se você também acha que vale mais a pena contratar jogadores do que investir na prata da casa, olha na lista abaixo a relação de jogadores do Barcelona criados no próprio clube e participaram da final do Mundial de Clubes 2011:

  • Victor Valdés
  • Piqué
  • Puyol
  • Fontás
  • Busquets
  • Xavi
  • Iniesta
  • Thiago Alcântara
  • Pedro
  • Fábregas
  • Messi

Ou seja, um time inteiro do Barça se conhece e joga junto desde as categorias menores, levando a um entrosamento e um toque de bola difícil de superar, aliado à técnica e talento natural dos jogadores. Além disso deve ser levado em conta o trabalho tático feito pelo treinador Pep Guardiola, que leva a sério seu cargo: o treinamento do Barça faz do time quase impossível de lhe roubarem a bola e quando isso acontece, cada jogador tem a mentalidade de roubá-la o quanto antes e retomar o controle da partida.

O Santos aprendeu esses segredo da pior forma possível. Inerte frente à superioridade barcelonista, só restou ao time brasileiro a resignação de aceitar a derrota e para o futebol brasileiro, pensar seriamente em algo como uma refundação, para que o protagonismo de outrora no cenário mundial não seja mais do que uma evanescente lembrança num futuro próximo.

2 Comentários

  1. mallconz

    Foi o melhor post sobre a final do mundial que eu li… isso tira uma dúvida minha: se o Santos, comparado ao Barcelona, foi um zero a esquerda, imagina o resto do futebol do Brasil?

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  2. Gustavo

    Bom texto! Porém, a Holanda não chegou a final da copa de 1970. Isso ocorreu, na verdade, em 1974!

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